ARTIGOS

 

O LÚDICO NA EDUCAÇÃO

 

Marilene Lins Figueirôa
Doutoranda pela UDE - Universidad de La Empresa – Montevidéu-UY

 

RESUMO: O presente artigo tem por objetivo fazer uma reflexão teórica a respeito do lúdico como elemento fundamental no processo de apropriação do conhecimento. Delimitou-se a problemática para a educação das séries iniciais, por ser, atualmente, o campo de atuação. O foco central é mostrar os vários aspectos do lúdico como fonte impulsionadora do processo e desenvolvimento e da aprendizagem da criança. Neste sentido, pela característica da pesquisa, buscou-se trazer à tona as idéias fundamentais dos diferentes papéis que o lúdico exerce no fazer pedagógico da educação das séries iniciais. Sob a luz do teórico Jean Piaget afirma que a ludicidade é uma ferramenta pedagógica e que exerce uma função fundamental para o desenvolvimento da criatividade, iniciativa e autonomia, como também para a apropriação dos diversos saberes produzidos historicamente pela humanidade.

Palavras- Chaves: Lúdico; Criança; Alfabetização; Educação. 

ABSTRACT: The present article has as its aim to make a theoretical reflection about the “ludico” as a primary element in the knowledge acquisition process. We’ve delimitated the problematic to the beginner series, for being the actuation field nowadays. The central spot is showing the various aspects that the “ludico” as a pushing source of the learning development process of the child. Is this way, by the characteristic of the research, we’ve aimed to bringing up to the top, the primary ideas of the defferent roles the “ludico” plays when doing the pedagogical part of the education to the beginner series. Highlighted by Jean Piaget who says that the “ludicidade” is a pedagogical tool that carries out the primary function to the creativity development, initiative and autonomy, as well as to the acquisiotin of the several knowledege mad up through the time by the humanity.

Keywords: “Ludico”; Child; Alphabetization; Education.

 

           1. Introdução

            No curso da história, tempos diferentes, brinquedos diferentes. No primeiro tempo, os brinquedos confeccionados pelas crianças - a  o tempo das bonecas de pano, dos carrinhos de madeira, dos cavalos de pau, das brincadeiras de amarelinhas, das cantigas de roda, com o cenário natural da noite, e o mistério das estrelas. Este era um tempo em que a subjetividade da criança se fazia de uma criança para outra e da criança com a mãe. Tempo em que se preservava o sonho e os limites se definiam no aprendizado de uma relação que é essencialmente lúdica - a relação de uma criança com a outra.
Hoje, novos tempos, a marca da industrialização, iguais entre si e impostos à criança pelos meios de comunicação de massa. Tempos de globalização, quebra da singularidade do sujeito. Assim, a subjetivação da criança se faz num outro cenário. As brincadeiras de fundo de quintal foram substituídas e reduzidas a um quarto e a uma tela de televisão ou computador. A relação da criança não é mais com outra criança, mas com a imagem virtual. Com isso, as emoções se perdem nesses circuitos eletrônicos e a criança passa a ter como melhor companhia, a máquina e as imagens virtuais.
Assim, através do lúdico, o educador pode desenvolver e contribuir com a criança para a melhor assimilação dos saberes oferecidos pela escola. Fazendo o uso do lúdico, baseado em brincadeiras que ensinam, de forma concreta, é que no decorrer desta discussão pretende-se mostrar recursos que possam contribuir para o desenvolvimento de programas que propiciem aos educadores a reflexão sobre a importância que as atividades lúdicas podem fornecer à criança, às suas emoções, interações com colegas, desempenho físico motor, suas fases de desenvolvimento, seu nível lingüístico, sua formação moral.
A medida que a criança se desenvolve e interage com o meio e com o grupo, sua identidade, sua auto-imagem positiva, sua personalidade são desenvolvidas. A afetividade é uma constante no processo de construção do conhecimento na escola de seus objetivos e transformações em seu universo cognitivo, lingüístico e social.
Torna-se, portanto, importante a implantação de uma proposta baseada no lúdico no cotidiano escolar, visando ampliar o desenvolvimento dos educandos, através de tarefas descontraídas como danças, artes, ciências, jogos, entre outras atividades.

           2. Revisão de literatura

            A sala de aula tem, entre outras características, o fato de se apresentar como coisa séria, não permitindo espaço para o divertimento; o rigor e a disciplina são mantidos em nome dos padrões institucionais, o que torna o ambiente infantil artificial, longe dos gostos das crianças. O brincar se resume em ouvir histórias ou cantar algumas músicas. A hora do recreio e a hora da saída se tornam os únicos momentos em que as crianças se desnudam da responsabilidade da escola para permitir-se brincar e ser criança.
A escola precisa se dar conta que através do lúdico as crianças têm chances de crescerem e se adaptarem ao mundo coletivo. O lúdico deve ser considerado como parte integrante da vida do homem não só no aspecto de divertimento ou como forma de descarregar tensões, mas também como uma forma de penetrar no âmbito da realidade, inclusive na realidade social.
A questão fica sobre o fato das escolas afastarem o lúdico da vivência dos alunos em sala de aula ao invés de aproveitarem como instrumento facilitador da aprendizagem, o que demonstra uma postura que nega a cultura infantil. Como nos diz Santo Agostinho: "O lúdico é eminentemente educativo no sentido em que constitui a força impulsora de nossa curiosidade a respeito do mundo e da vida, o princípio de toda descoberta e toda criação".
Nessa perspectiva, CAMPOS (2001, p. 12) destaca: "observa-se que a escola pode contribuir para a formação de bonecos manipulados, moldados de acordo com os padrões exigidos pela sociedade capitalista e injusta, negando-lhe o processo de criação e descoberta do mundo onde interage, prevalecendo os interesses da escola e não de um indivíduo que pode pensar, refletir e agir".
Em contrapartida, não devemos negar que a escola tenha também o seu lado sério. O problema é a forma pela qual ela interage com as crianças. O fato de apresentar-se séria não quer dizer que ela deva ser rigorosa e castradora, mas que ela consiga penetrar no mundo infantil para, a partir daí, poder desempenhar a sua real função de formadora afetivo-intelectual. Para tanto, é necessário que a mesma busque valorizar a seriedade na busca do conhecimento, resgatando o lúdico, o prazer do estudo, sem contudo reduzir a aprendizagem ao que é apenas prazeroso em si mesmo.

            2.1 A importância do lúdico

            O uso do lúdico, no contexto educacional, só pode ser situado corretamente a partir da compreensão dos fatores que colaboram para uma aprendizagem ativa. Vê-se muitas vezes jogos de regras modificados sendo usados em sala de aula com o intuito de transmitir e fixar conteúdos de uma disciplina, de uma forma mais agradável e atraente para os alunos. No entanto, segundo CAMPOS (2001, p. 12), "mais do que o jogo em si, o que vai promover uma boa aprendizagem é o clima de discussão e troca, com o professor permitindo tentativas e respostas divergentes ou alternativas, tolerando os erros, promovendo a sua análise e não simplesmente corrigindo-os ou avaliando o produto final". Isso tudo não é muito fácil de controlar e muito menos de se prever e planejar de antemão, o que pode trazer desconforto e insegurança ao professor. Por isso, ele tende a usar o lúdico e outras propostas que potencialmente ativam as iniciativas dos alunos (como pesquisas ou experiências de conhecimento físico) de modo muito limitado e direcionado e não como recurso de exploração e construção de conhecimento novo.
O lúdico pode ser realizado através de passeios, trabalhos externos e com objetos trazidos pelos educandos que enriquecem a aula e tornam o educando participativo e atuante. Esses objetos inclusive podem ser coletados durante o passeio para que as crianças sintam, através do toque, diferentes texturas e formas.
Dependendo da abordagem e do preparo do profissional, o uso do lúdico em sala de aula é um recurso tanto para avaliação quanto para intervenção em processos de aprendizagem. Numa abordagem que evita atacar o sintoma de frente, o lúdico é o recurso ideal, pois promove a ativação dos recursos da criança sem ameaçá-la.
PIAGET (1987) afirma que "O jogo é um tipo de atividade particularmente poderosa para o exercício da vida social e da atividade construtiva da criança". Pelo lúdico, procura-se integrar os fatores cognitivos e afetivos que atuam nos níveis conscientes e inconscientes da conduta, não se pode deixar de lado a importância do símbolo que age com toda sua força integradora e auto-terapêutica no lúdico, atividade simbólica por excelência. Abrir canais para o simbólico do inconsciente não é só promover a brincadeira de "faz de conta" ou o desenho. Qualquer jogo, mesmo os que envolvem regras ou uma atividade corporal, dá espaço para a imaginação, a fantasia e a projeção de conteúdos afetivos, mais ou menos conscientes, além, é claro, de toda a organização lógica que está ali implícita.
O professor, para CAMPOS (2001, p. 15), "não interpreta mas deve poder compreender as manifestações simbólicas e procurar adequar as atividades lúdicas às necessidades das crianças."
Aprender com o outro é mais rápido e mais efetivo porque é mais prazeroso. Uma das coisas que o jogo assegura é esse espaço de prazer e aprendizagem que o bebê conhece mas que a criança perde quando entra na escola. Competir dentro de regras, sabendo respeitar a força do oponente, perceber uma situação sob o ponto de vista oposto ao seu.
Dependendo de como é conduzido, o jogo ativa e desenvolve os esquemas de conhecimento, aqueles que vão poder colaborar na aprendizagem de qualquer novo conhecimento, como observar e identificar, comparar e classificar, conceituar, relacionar e inferir. Também são esquemas de conhecimento os procedimentos utilizados no jogo como o planejamento, a previsão, a antecipação, o método de registro e contagem e outros.
Conhecendo primeiramente as condições e as necessidades de cada estágio desses esquemas de conhecimento. Não é questão de oferecer jogos diferentes para cada faixa etária (como vem indicado nas caixas de jogos). Jogos com a mesma estrutura podem servir para várias idades se manejamos a sua complexidade, aumentando ou diminuindo o número de informações. Nos jogos de Senha, por exemplo, podemos variar de 3, 4 ou mais, os elementos a serem descobertos, o que resulta numa diferença muito grande de complexidade da tarefa. Se trabalhamos com dois atributos, cor e posição, colocamos mais dificuldade para coordenar as partes no todo, mas se combinamos de saída as cores, a criança só vai se preocupar em achar a seqüência das posições da Senha. Outro aspecto é o nível de abstração em que a criança vai operar: o mesmo jogo pode ser apresentado por figuras ou apenas verbalmente, caso esse em que o poder de abstrair e de conceituar a partir de proposições precisa ser bem maior.
Para CAMPOS (2001, p. 18), "se o jogo vira obrigação ou é usado com finalidade de instrução apenas, perde seu caráter de espontaneidade e deixa de ser jogo porque se esvazia no seu potencial de exploração e invenção. Brincar é fundamental. Muitos adultos não sabem brincar, perderam essa capacidade de se descontrair, de se arriscar ou nunca a tiveram e aí fica difícil usar o jogo como recurso tal como eu o entendo".
A criança precisa sentir-se valorizada e devemos respeitar cada fase de seu desenvolvimento. Como afirma SNYDERS (1996, p. 28), “contudo, é preciso enfatizar que preparar-se para o futuro faz parte das alegrias presentes na infância: O desejo de crescer é um dos componentes essências do presente da criança”.
O lúdico torna-se, portanto, de vital importância, principalmente porque falta para a escola juntar o conhecimento cientifico ao popular, pois é na prática que se aprende. O problema da escola está,  pois, de acordo com SCHLIEMANN (1988, p. 42), “na  incapacidade de estabelecer uma ponte entre o conhecimento formal que deseja transmitir e o conhecimento prático do qual a criança, pelo menos em parte, já dispõe”.
Neste processo de desenvolvimento da criança onde pode-se perceber cor, forma, textura, consistência, tamanho, peso, odor, também classificar, seriar, trabalhar com o corpo e o espaço. O interagir com os adultos (pais) através de excursões com a classe, verbalizar emoções, desenhar, imaginar, jogar. Já o aspecto psicomotor traz o trabalho com o corpo onde é realizado exercícios rítmicos, jogos, danças, etc... O trabalho social está voltado ao respeito às regras e limites. No aspecto afetivo, um dos mais importantes e discutidos atualmente, devido à  falta desses sentimentos na vida das pessoas, percebe-se e discute-se as alegrias da realização dos trabalhos, o carinho para com o próximo, o companheirismo com o semelhantes.
FREIRE (1987, p. 74) nos esclarece um pouco mais sobre as diferenças entre o adulto e a criança, sendo que

o mundo do adulto é intrinsecamente diferente do mundo da criança. O mundo adulto é utilitário, produtivo, realista. O mundo da criança é lúdico, fantástico, idealista (...). O adulto produz e aprende trabalhando, a criança brincando. O trabalho e o aprendizado da criança acontecem brincando. É através disto que a criança vai tomando contato com o mundo das regras. Todo o jogo tem suas regras que devem ser entendidas, incorporadas e respeitadas pela criança.

            Devemos, no entanto, lembrar que, segundo FREIRE (1987, p. 74), “o  mundo do adulto é intrinsecamente diferente do mundo da criança. O mundo adulto é utilitário, produtivo, realista. O mundo da criança é lúdico, fantástico, idealista”.
A criança desenvolve suas atividades através da imaginação, fantasia, liberando energias e interagindo como o mundo. Adulto, imagina de acordo com a realidade, faz plano, age planejadamente, não sonha, não divaga pela imaginação, portanto não traduz os desejos da alma.
A comunidade escolar deve ser agradável, pois, para SNYDERS (1996, p. 27), “somente se o aluno sentir a alegria presente na escola é que ele reprimirá sua inclinação à distração, à preguiça, a facilidade”.
À medida que a criança interage com os objetos e com outras pessoas, construirá relações e conhecimentos à respeito do mundo em que vive. Aos poucos, a escola, a família, em conjunto, deverão favorecer uma ação de liberdade para a criança, uma sociabilização que se dará gradativamente, através das relações que ela irá estabelecer com seus colegas, professores e outras pessoas.

    1. O lúdico e o brincar na escola

            Brincar, hoje, nas escolas está ausente de uma proposta pedagógica que incorpore o lúdico como eixo do trabalho infantil. Percebe-se a inexistência de espaço para o desenvolvimento cultural dos alunos. Esse resultado, apesar de apontar na direção das ações do professor, não deve atribuir-lhe culpabilidade. Ao contrário, trata-se de evidenciar o tipo de formação profissional do professor que não contempla informações nem vivências a respeito do brincar e do desenvolvimento infantil em uma perspectiva social, afetiva, cultural, histórica e criativa.
É rara a escola que invista neste aprendizado. A escola simplesmente esqueceu a brincadeira, na sala de aula ou ela é utilizada com um papel didático, ou é considerada uma perda de tempo. E, até no recreio, a criança precisa conviver com um monte de proibições, como também ocorre nos prédio e clubes.
Valorizar, neste caso, significa cada vez mais levar o brinquedo para a sala de aula e também munir os profissionais de conhecimentos para que possam entender e interpretar o brincar, assim como utilizá-lo para que auxilie na construção do aprendizado da criança. Para que isso aconteça, o adulto deve estar muito presente e participante nos momentos lúdicos.
O lúdico faz parte do processo educativo, na medida em que alia o conhecimento, o cotidiano e a fruição. A brincadeira pode ser entendida como um diálogo simbólico entre a criança e a realidade em que está inserida. Para MARCELINO (1990, p. 72) “... o brinquedo, o jogo, a brincadeira, são gostosos, dão prazer, trazem felicidade. Através do prazer, o brincar possibilita à criança a vivência de sua faixa etária e ainda contribui de modo significativo para a sua formação como ser realmente humano, participante da cultua da sociedade em que vive (...) A vivência do lúdico é imprescindível em termos de participação cultural crítica e, principalmente, criativa”.
As atividades lúdicas visam incitar e exatas a imaginação das crianças e criar unia situação de aprendizagem, sendo muito importante no processo de socialização. É primordial que o brinquedo, o jogo, o lazer, o prazer marquem sempre um encontro com a criança na sala de aula. A brincadeira pode se entendida como um diálogo simbólico entre a criança e a realidade em que está inserida.
BENJAMIM (1984) sinaliza: “A criança quer puxar alguma coisa e toma-se cavalo, quer brincar com areia e toma-se pedreiro, quer esconder-se e toma-se ladrão ou guarda”. É preciso considerar que não existe uma criança, mas muitas crianças com vivências variadas. Assim, o professor deve levar em conta que não existe apenas uma cultura da criança, mas várias culturas, e aproveitar o momento para a troca, o enriquecimento, através das diferentes experiências da vida.
A ludicidade é um assunto que tem conquistado espaço no panorama nacional, principalmente na educação infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental, por ser o brinquedo a essência da infância e seu uso permitir um trabalho pedagógico que possibilita a produção do Conhecimento.
As concepções sobre alfabetização fundamentam-se numa visão de homem e de sociedade. Nessa perspectiva, a aprendizagem da leitura e da escrita deve ser entendida como um processo de múltiplas dimensões que promoverá o indivíduo à condição de ser social ativo, considerando suas experiências e interações com seus pares, a fim de que possa construir a escrita.

2.3 O jogo

            Os jogos, bem como a dança e outros tipos de manifestações desenvolvidas pelo povo, devem fazer parte do cotidiano escolar, pois reproduzem relações sociais e desempenham atitudes que favorecem o raciocínio lógico e o desenvolvimento cognitivo. Através dos jogos, são simbolizadas relações do real e do imaginário da criança.
Para VYGOTSKY (1984, p. 118):

A criança começa com uma situação imaginaria, que é uma reprodução da situação real sendo brincadeira muito mais lembrança de alguma coisa que realmente aconteceu, do que uma situação imaginaria nova. À medida que a  brincadeira se desenvolve, observamos um movimento em direção a realização consciente do seu propósito. Finalmente surgem as regras que irão possibilitar a divisão do trabalho e do jogo na idade escolar.

            Assim, o jogo vem sendo a atividade predominante no esforço de “conhecer” o mundo; nas séries iniciais, se configura como principal estratégica de  conhecimento. Para organizar de forma produtiva o trabalho pedagógico nas séries iniciais, o professor precisa ter clareza do processo de aquisição do conhecimento pela criança, mais particularmente em cada idade escolar e de como utilizá-las no processo de ensino.
É através dos jogos e brincadeiras que o aluno vai ser incentivado a aprender com maior facilidade e empenho. O professor, através destas, deverá estimular a capacidade de observação, percepção, imaginação, análise e avaliação. Dessa forma, estará preparando seus alunos para viverem com coragem, habilidade e disciplina.
As atividades recreativas devem ser aplicadas de forma correta, planejada com objetivos, de modo que leve, realmente, o aluno a aprender brincando.
O método lúdico pode desenvolver na criança sua espontaneidade, aliviar sua tensão interior, reeducar seu comportamento, aumentar seu coeficiente de autoconfiança e fazê-la agir com firmeza.
Na execução das atividades lúdicas, o professor deve transmitir segurança do seu trabalho. Cada palavra ou gesto deve representar entusiasmo e estímulo.
Sendo assim, deve-se transformar a sala de aula em um ambiente significativo, que é de fundamental importância para que a elaboração do conhecimento se concretize. A sala de aula não pode ser vista como um lugar de coisas “chatas” e corriqueiras que aparecem despojadas de significado, pois é na infância que o homem pode viver no faz de conta não permitido ao adulto.
Segundo VYGOTSKY (1989, p. 117), “no brinquedo, a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de sua idade, além de seu comportamento diário. No brinquedo é como se ela fosse maior do que é na realidade”.
A ludicidade propõe um trabalho de enriquecimento, possibilitando a interdisciplinaridade, onde se desenvolvem habilidades de reflexão sobre o tema a ser abordado, “Brincar criando”, enfatizando a brincadeira produtiva, liberando o imaginário do aluno.
O jogo é, portanto, uma atividade que permite o desenvolvimento afetivo, motor, cognitivo, social, moral, além da aprendizagem de conceitos. O jogo, sobretudo, ainda objetiva desenvolver o raciocínio, a socialização, a memória, a coordenação dinâmica manual, uso-motora, espacial e a concentração.
Ele pode ser aplicado nas mais diversas áreas da linguagem, tornando um ponto muito atrativo para professores fixarem os mais diversos conteúdos. A aceitação por parte dos alunos é praticamente unânime, pois o jogo é prazeroso, sendo também um passatempo. Além de todas essas vantagens, ele também pode ser realizado em grupos, contribuindo para a integração da comunidade escolar.
Porém, como todas as atividades que são desenvolvidas no contexto escolar, as atividades lúdicas exigem limites para que se obtenha êxito nos objetivos traçados. FREIRE (1987, p. 220) diz: "As vezes existe a necessidade de fazer concessões aos limites do momento, à necessidade de inserir o ensino critico no uso correto da linguagem e nas questões profissionais. Mas, as eras conservadoras que impõem tais limites se fazem e se desfazem na história. Assim que o conservadorismo recuar, a resistência dos  estudantes ao ensino transformador deve diminuir".
Em qualquer época da vida de crianças e adolescentes, e porque não de adultos, as brincadeiras devem estar presentes. Brincar não é coisa apenas de crianças pequenas, erra a escola ao subsidiar sua ação, dividindo o mundo em lados opostos: de um lado, o jogo da brincadeira, do sonho, da fantasia e, do outro, o mundo sério do trabalho e do estudo. Independente do tipo de vida que se leve, todos adultos, jovens e crianças, precisam da brincadeira e de alguma forma de jogo, sonho e fantasia para viver.
A capacidade de brincar abre para todos, crianças, jovens e adultos, uma possibilidade de decifrar enigmas que os rodeiam. A brincadeira é o momento sobre si mesmo e sobre o mundo, dentro de um contexto de faz-de-conta. Nas escolas, isso é comumente esquecido.

2.4 Possibilidades do lúdico em sala de aula

            A recreação é sem dúvida uma das atividades que mais chamam a atenção dos educandos. Ela tem muito valor na vida escolar. A liberdade é fundamental, principalmente tratando-se de educação infantil na criação, atividades lúdicas e imaginativa que estão presentes nas brincadeiras, no brinquedo e no jogo, envolvendo a construção, manifestação expressiva e lúdica, sons, fala, gestos e movimentos. Todas essas atividades com certeza trarão ótima apreensão dos conhecimentos para o desenvolvimento motor e psicológico, além da integração com os colegas.
Para VYGOTSKY (1989, p. 118), "O ensino sistemático não é a única forma de conhecimento existente para a criança, o brinquedo também é importante para o seu desenvolvimento global. Por mais simples que seja o brinquedo, brincar facilita o crescimento e, portanto a saúde. Conduz relacionamento grupais, é uma forma de comunicação".
O ideal  em uma escola é contar com um espaço físico arborizado, onde os alunos possam correr, descobrir novidades, explorar lugares. O movimento ajuda a criança a liberar tensões, aprimorar seu equilíbrio, sua agilidade, senso de direção, lateralidade. Correr, saltar, pendurar-se, marchar, lançar-se faz muito bem, pois a criança está em fase de tenso desenvolvimento.
A gestualidade, as mímicas, são expressões fantásticas que contribuem grandemente para o desenvolvimento da linguagem. Muitas pessoas se comunicam através deste sistema e por isso ele deve ser desenvolvido por nós para contribuímos para  uma melhor interação entre as pessoas.
Atividades como as mímicas são de excelente qualidade para enriquecer a aula. O teatro abre as cortinas da imaginação desenvolvendo a linguagem, os gestos, o movimento e principalmente extinguindo certos preconceitos que as pessoas adquirem ao longo da vida. Com a interpretação de personagens diversos, as vezes até do sexo oposto, é que vão entender as diferenças pessoais de cada ser humano.
Conforme KELLY (1973), expressão e comunicação, que acompanham a humanidade desde a antiguidade tornaram-se para o presente um estimulo, inclusive pela facilidade com que os meios de transmissão estão dispostos na vida das pessoas, fazendo com que a comunicação seja, de fato atônica de nosso século.
A mímica está associada aos sons, a música, pois com a precisão dos gestos desenvolvidos pelo ato que está em cena e o acompanhamento de alguns ruídos traduz gestos e idéias. É uma arte milenar, cultivada desde os primórdios do teatro.
Todo o gesto tem conteúdo e propósito. Através dele se explicita emoções, felicidade, tristeza, e para isso o ator utiliza técnicas e partes do seu corpo como os olhos, a boca, mãos, braços, etc.
Todos os alunos de uma forma ou de outra praticam a mímica, pois algumas situações da vida diária nos obrigam a exercita-la como: vestir-se, tomar um ônibus, fazer refeições, etc.
O jogo dramático, ou seja, o 'faz de conta', está associado às brincadeiras infantis. Isso desenvolve os futuros atores que terão uma bagagem de conhecimento dentro de todos os aspectos. Através dessa atividade, o aluno desenvolve atitudes espontâneas que contribuem para a pratica educacional.
O teatro e sua prática utilizam muitos aspectos como o cenário, o figurino, a maquiagem ou máscaras caracterizando os personagens. Tudo o que foi citado é parte fundamental para a caracterização do personagem, visto que a interpretação neste caso torna-se completa. Portanto, não adianta fazer uma boa interpretação (sendo que esta nem sempre é verbal) se não tiver suporte (cenário, figurino, etc...), ambos dependem um do outro.
Marionetes e fantoches também constituem um tipo especial de teatro. No inicio dos tempos, eram utilizados para enfatizar sátiras políticas. Hoje estão aliados a histórias infantis clássicas e também àquelas inventadas na hora da apresentação, que sem dúvida nenhuma despertam a expressão e a articulação das expressões sonoras e corporais. Sem duvida essa modalidade de teatro constitui uma situação lúdica.
O interessante ainda do desenvolvimento do teatro no cotidiano escolar está voltado para a questão da integração dos educandos, pois as crianças trabalham em grupo para a realização das peças teatrais. Um personagem precisa do outro para dar uma sequência lógica à peça e isso desenvolve o sentimento da cooperação tão necessário e pouco exercido pelas pessoas atualmente.

3. Considerações finais

            Brincadeira e aprendizagem são consideradas ações com finalidades bastante diferentes e não podem habitar o mesmo espaço e tempo. Isto não está certo. O professor é quem cria oportunidades para que o Brincar aconteça, sem atrapalhar as aulas. São os recreios, os momentos livres ou as horas de descanso.
No entanto, constata-se que é através das brincadeiras que a criança representa o discurso externo e o interioriza, construindo seu próprio pensamento. O adulto transmite à criança uma certa forma de ver as coisas. Quando apresentamos várias coisas ao mesmo tempo, ou então por tempo insuficiente ou excessivo, estamos desestimulando o estabelecimento de uma atitude de observação.
Se quisermos que a criança aprenda a observar, se quisermos que ela realmente veja o que olha, temos que escolher o momento certo para apresentar-lhe o objeto, motivá-la e dar-lhe tempo suficiente para que sua percepção penetre no objeto. Teremos também que respeitar o seu interesse.
Insistir quando a criança já está cansada é propiciar o aparecimento de certas reações negativas. Aprender a ver é o primeiro passo para o processo de descoberta. É o adulto quem proporciona oportunidades para à criança ver coisas interessantes, mas é indispensável que respeitemos o momento de descoberta da criança para que ela possa desenvolver a capacidade de concentração.
Assim como a criatividade da pessoa que interage com à criança poderá torná-la criativa, a paciência e a serenidade do adulto influenciarão também o desenvolvimento da capacidade de observar e de concentrar a atenção.

Referências

BENJAMIM, Walter. Reflexões: a criança, o brinquedo, a educação. 3 ed. São Paulo: Sumus, 1984.

CAMPOS, Maria Célia Rabello Malta. A importância do jogo na aprendizagem. São Paulo: USP, 2001.

CHLIEMANN, Ana Lúcia. CARRAHER, David & CARRAHER, Terezinha. Na vida dez, na escola zero. São Paulo: Cortez, 1988.

FREIRE, Paulo.  Shor, Ira - Medo e ousadia: o cotidiano dos professores. 2 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

____________. Pedagogia da autonomia. 15 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

JACKSON, Paul. A' Court Angela. Origami - artesanato em papel. Erechim - RS: Ind-graf, 1996.

KELLY, Celso. Escola Nova para um tempo novo. Rio de Janeiro: Olympio, 1973.

MARCELINO, Nelson Carvalho. Pedagogia da animação. São Paulo, 1990.

OSTROWER, Faya. Criatividade e processo de criação. São Paulo: Vozes, 1996.

SNYDERS, Georges. Alunos felizes. 2 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

TOLKMITT, Valda M. Educação Física: uma produção cultural. Curitiba, Pr: Módulo, 1993.

VYGOTSKY, Liev Semionovich. A formação social da mente. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

_______________________. Psicologia del arte. Barcelona: Barral, 1989.